Lazer santo não significa deixar de passear, fugir de certas diversões, ou estabelecer um limite de gastos. É conseqüência de uma atitude de coração, pois é de lá que procedem as fontes da vida (Pv 4.23). Se Jesus não é Senhor da nossa vida, se o limite da nossa experiência cristã é procurar em Deus a solução das nossas angústias e distúrbios interiores e exteriores, se não fomos inflamados para conquistar "aquilo" para o qual fomos conquistados (Fp 3.12), se não existe, enfim, um grande alvo superior que dá sentido para toda nossa existência, então qualquer padrão exterior do que é lícito ou não para o cristão praticar no seu lazer será apenas uma casca vazia de legalismo.
A partir do momento, contudo, que formos conquistados por esta visão celestial, nossa atitude em relação ao lazer (como também em relação a todas as outras coisas) começa a mudar. Neste caso, a tendência é cair no primeiro extremo, mas precisaremos aprender que nosso corpo é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19) e que somos responsáveis por cuidar dele. O descanso, o espaço, o alívio e a pausa são fatores necessários, instituídos por Deus e que não podemos ignorar (veja outras matérias nesta edição, que tratam de forma mais completa deste aspecto).
O lazer se enquadra, então, junto com as demais necessidades do corpo, que são reais e reconhecidas por Deus. Jesus, por exemplo, em Mateus 6.25-34, cita comida, bebida e vestuário como coisas de que realmente precisamos: "pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas" (v. 32).
Evidentemente, nossas necessidades físicas incluem várias outras coisas além destas três, mas aprendemos nesta passagem como devemos tratar a todas elas: não como prioridades, conforme fazem os gentios, mas como provisões que nosso Pai celestial nos dará quando buscarmos os interesses dele em primeiro lugar. Quando Paulo fala a respeito do que se pode comer, do dia em que se deve descansar, ou de coisas exteriores que se relacionam com o corpo, ele nos dá outro princípio importante. "Todas as coisas me são lícitas..." (1 Co 6.12). Em outras palavras, não é uma questão da atividade, do alimento, do dia, da diversão ou do passeio em si. "...Mas nem todas convêm"; ou seja, podem existir várias razões, por causa do testemunho, de outras pessoas, da situação financeira ou de circunstâncias específicas, para se eliminar uma determinada opção de lazer.
Finalmente, e mais importante: "Eu não me deixarei dominar por nenhuma delas". O lazer nunca pode ser o objetivo, um fim em si mesmo. É apenas um instrumento que contribui para nosso alvo maior, pois nos deixa mais dispostos e inteiros para perseguir a visão de Deus. Se prestamos obediência, ou somos dominados por alguma coisa, passamos a ser servos ou escravos daquilo (Rm 6.16), e nesta mesma medida deixamos de ser servos do Senhor.
Aqueles que estão numa competição subjugam seus desejos desordenados para ganhar o prêmio (1 Co 9.25-27); o soldado suporta sofrimento e não desvia sua atenção para "negócios desta vida" (2 Tm 2.3,4); da mesma forma, devemos cuidar do corpo mas lutar constantemente para que seus desejos não venham a exercer controle sobre nós. Os que compram devem agir como se nada possuíssem, os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem (1 Co 7.29-31); em outras palavras, usamos o lazer como recurso necessário, mas não vivemos em função dele.
Paulo falava também daqueles cujo deus era o ventre (Fp 3.19; Rm 16.18) e que eram mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus (2 Tm 3.4). Podemos ser membros fiéis de uma igreja, dar regularmente nossos dízimos e ofertas e ainda viver em função dos nossos próprios desejos (o ventre) e nos entusiasmar mais com nossas viagens, passeios, hobbies ou passatempos do que com os interesses do Reino de Deus.
Fonte: SEPAL
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