por Taís Machado
"Há algo de errado se não temos interesse em nenhuma área da criatividade humana. Alguns podem se interessar mais por cinema, outros por pintura, outros por música, outros por poesia, literatura, dança, escultura, e todos podem se maravilhar diante da criatividade de Deus na natureza ao nosso redor". - Frank Schaeffer
Já perceberam o quão facilmente nos acostumamos ao que é ruim? E na era da velocidade, parece que nos acostumamos a acostumar (trocadilho proposital) ainda mais rápido! Inicialmente podemos até criticar, dizer que beira à mediocridade tal produção, tal liderança, posturas, etc. Contudo, não é difícil sermos vencidos pela exposição massiva, ou seja, de tanto ver, ouvir, presenciar, acostumamos tanto que depois de pouco tempo já achamos que melhorou e aderimos, ou, começamos a consumir. Nossa tolerância pressionada, inclusive com justificativas lamentáveis, tem nos levado para um mar de mediocridade, que se reflete desde os detalhes do cotidiano até grandes apresentações e estilo de vida.
Há uma subjetividade da mediocridade que tem passado desapercebida e influenciado gerações! Nossa tendência parece ser nivelar por baixo. A impressão é que, a cada dia mais, aceitamos a falta de preparo do outro, e desconfio, até mesmo porque ela nos faz lembrar da nossa.
Com freqüência há um discurso do tipo: "Ah, dá um desconto, a pessoa até que é esforçada..." Entretanto, de repente, está tudo em promoção, pois, sempre temos que dar descontos e mais descontos. Qualquer crítica hoje parece ser coisa do diabo! É claro que o melhor irá variar conforme as oportunidades e as capacidades desenvolvidas na história que cada um conseguiu construir, e isso precisa sempre ser levado em consideração. Além do mais, há uma enorme beleza na simplicidade. Aliás, ser simples é muito difícil. Trata-se de uma capacidade e beleza raras. Contudo, não confundamos simplicidade com simplismo! Já quase não há desconforto com a mediocridade reinante.
Será que o medo da frustração, incentivada pela superficialidade, tem nos feito acolher o lixo e o luxo achando que tudo é belo? É claro que muito lixo pode ser reciclado e muito luxo dispensado, porém, quem tem buscado a excelência e exercido todo seu potencial criativo? Temos a coragem de nos deixar ensinar pelas frustrações a serem enfrentadas?
Que tal a campanha: "Chega de Jeitinho"? Para mim, era um pouco disso o que fazia Daniel, no exercício de sua profissão. O texto bíblico nos diz: "Daniel se distingüiu dos presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito de excelência" (Dn 6.3). Pois é, qual o nosso espírito? Talvez valha a pena fazer uma faixa: "espírito de excelência – procura-se urgentemente".
César Benjamin, que em 1968 foi o mais jovem militante, que aos 14 anos já entrava para a clandestinidade, e hoje dirige a organização que ele mesmo criou: Consulta Popular. Recém-entrevistado por Zuenir Ventura, no livro "1968 – O que fizemos de nós", diz: "o aspecto mais relevante, no Brasil contemporâneo, é a ascensão da mediocridade como valor". E ainda acrescenta: "Não me refiro apenas ao governo, mas à sociedade. Pensamos pequeno, fazemos tudo malfeito e compensamos isso com doses cavalares de marketing".
Dentre as conseqüências do pecado, parece que a criatividade também foi atingida. A morte e a destruição que o pecado geraram têm atingido em proporções maiores a criatividade que Deus nos concedeu ao nos fazer à sua imagem e semelhança. Porém, com Jesus, há novamente a chance do potencial criativo vir à tona, uma vez que agora o Espírito de Deus age em nós a fim de nos tornarmos conforme o projeto inicial (Rm 8.29). É um processo, mas um processo que já começou para aqueles que estão em Cristo. Assim sendo, em tese, deveríamos ser referenciais de excelência aos que nos cercam.
Em seu livro, Schaeffer é direto: "Cada um de nós deveria demonstrar grande interesse naquilo que Deus fez e naquilo que o homem faz como uma de suas criaturas, e, portanto, uma expressão do próprio Deus". E ainda nos alerta: "[Há] Uma absurda descaracterização da imagem de Deus diante do mundo, além do abuso e da manipulação dos talentos transformados em meras ferramentas úteis. Devemos resistir a essa avalanche de lixo. Devemos resistir a esse massacre e exigir padrões mais elevados".
Onde estão os caçadores de talentos perdidos? Caçadores esses que não querem tirar proveito próprio e levar vantagem, mas apenas reconhecer e celebrar a Deus na beleza de sua santidade (Sl 29.2).
Chega de convidar e atrair o descrédito, o testemunho frouxo, a postura de mediocridade. Fiquemos com Deus, nos relacionemos com Ele de maneira tal que o poder criativo continue a ser exercido através de nossos afazeres, que a criação tenha vida longa e a excelência seja sua marca. Que haja brilho, aquele brilho inconfundível da glória de Cristo, que leva as pessoas a glorificarem a nosso Pai que está nos céus (Mt 5.16).
Tais Machado é Psicóloga e docente em diversos Seminários Teológicos, é Secretária Nacional de Capacitação da ABUB – Aliança Bíblica Universitária (ligada à International Fellowship Evangelical Students), integrando a executiva nacional da organização.
Fonte: Cristianismo Criativo
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